- Por Maurício Pires e Osman Velazquez
Como toda inovação impactante, as criptomoedas estão enfrentando o desafio de vencer a barreira do extremismo. A simples menção ao termo suscita reações que vão da negação absoluta ao entusiasmo pleno. Há os que de cara, sem muito fundamento, falam de tudo o que se refere ao termo ‘coin’ com descrença. Mas também existem os que, mais na base da torcida, identificam essa novidade com liberdade total, fim dos intermediários e uma série de desejos que talvez, pelo menos para este momento, possam ser qualificados como utopias.
A verdade é que o conceito de criptomoeda foi uma das maiores revoluções que surgiu no mercado financeiro dos últimos tempos. Muito se especulava em torno do futuro das moedas tradicionais, visto que o próprio papel-moeda se torna cada vez menos relevante em uma sociedade que realiza transações majoritariamente online. O mercado chegou a acreditar que o advento do criptoativo decretaria o fim do dinheiro como nós o conhecíamos. Um tempo se passou e ainda aguardamos que o blockchain atinja o seu enorme potencial.
Recentemente, as criptomoedas encabeçaram as notícias com o anúncio de que o Facebook, uma das empresas mais disruptivas do mercado, lançaria a sua própria cripto, a Libra, em breve. O anúncio, contudo, mingou. Mark Zuckerberg foi sabatinado por órgãos reguladores do mercado para esclarecer os limites da sua moeda virtual, acendendo o sinal amarelo para a companhia. Mais recentemente, o Facebook parece ter voltado atrás, anunciando, em seus resultados do segundo trimestre de 2019, que a Libra poderia nem sair do papel – o objetivo era que a moeda entrasse em vigor já em 2020.
À parte de todos os problemas que uma tecnologia altamente inovadora pode representar para um mercado um tanto conservador, o maior entrave que as criptomoedas parecem enfrentar para sua plena aceitação é a forte flutuação de preços, que impede que elas exerçam plenamente as funções de meio de troca e de medida de valor.
Uma solução contra a volatilidade das criptomoedas é a criação das chamadas Stablecoins, cuja tradução mais comum e literal é “moeda estável”. A conotação com a moeda física é importante, pois o propósito das Stablecoins consiste justamente em dotar as criptomoedas da estabilidade característica das chamadas “moedas fortes”, ou divisas, como o dólar, o euro, o iene.
Esse propósito de “estabilizar” o valor das criptomoedas significa, em geral, constituir garantias em ativos, bens ou moedas reais, de modo a relacionar, ou indexar, o valor da Stablecoin ao valor dessas garantias. Exemplo disso é o GMC da Gomoney, criptomoeda atrelada à cotação do dólar e que visa facilitar negócios entre as pessoas ao redor do mundo.
Cada Stablecoin tem em comum a aceitação dos tokens a um ativo do mundo real, de modo que seja possível equiparar o dinheiro virtual ao dinheiro físico, combinando as vantagens de ambos: a segurança, a descentralização e a agilidade do digital, com a maior estabilidade do dinheiro em espécie.
Cotações mais estáveis contribuirão para a transição de produtos financeiros convencionais, como empréstimos, investimentos, entre outros, para a tecnologia blockchain. Para quem usa as criptomoedas como reserva de valor, as Stablecoins são a melhor opção. Normalmente, atreladas a uma moeda forte, se beneficiam em sinais de crise.
Se é verdade que a virtude está no equilíbrio, então as Stablecoins podem ser consideradas as colunas que sustentam este dom no mercado das criptomoedas.
(*) Maurício Pires e Osman Velazquez são sócios da GoMoney, empresa criadora da stablecoin brasileira atrelada à cotação do dólar GMC .