A pesquisa Radar Febraban, divulgada no final de março pela instituição que representa os bancos, revelou que 62% das pessoas entrevistadas se sentem pouco seguras (41%) ou nada seguras (21%) com relação à proteção de suas informações pessoais na web. Para o estudo foram entrevistados três mil brasileiros maiores de 18 anos de todas as cinco regiões do País, com cotas de sexo, idade e localidade, além de controle de instrução e renda.
Fausto Ferraz, CEO da Xsfera, plataforma de serviços especializados de consultoria de negócios e de soluções regulatórias, focada no mercado financeiro e de pagamentos, chama a atenção para a necessidade de aumentar rapidamente a confiança do consumidor na proteção da rede, pois isso será fundamental para que o Open Banking, por exemplo, alcance seus objetivos. “O Banco Central idealizou o Open Banking para fomentar a concorrência entre as instituições participantes, reduzir taxas de juros e trazer uma série de outros benefícios para os usuários de serviços financeiros. Mas o gatilho para que isto aconteça é o consentimento dado pelos próprios titulares de dados para que suas informações cadastrais e/ou transacionais possam ser compartilhadas entre instituições de seu relacionamento para obtenção de serviços agregados ou ofertas mais aderentes ao seu perfil. Caso as pessoas se recusem a fazer isso por insegurança, o projeto terá dificuldade de alcançar todo o seu potencial,“ comenta.
Para o fundador e presidente do SIGILO (Instituto Brasileiro de Defesa da Proteção de Dados Pessoais, Compliance e Segurança da Informação), Victor Hugo Pereira Gonçalves, infelizmente algumas ferramentas que poderiam contribuir para reduzir a sensação de insegurança das pessoas ainda não produziram efeitos significativos. Ele cita como exemplo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Mesmo depois da entrada em vigor da LGPD, temos acompanhado grandes vazamentos de dados no Brasil que atemorizam cada vez mais as pessoas. Embora o texto da lei seja bastante claro e completo no sentido de gerar proteção total, na prática o que vemos revela o mesmo roteiro: descaso institucional e pedido de desculpas dos controladores. Mas o titular dos dados continua sendo prejudicado”, afirma. A entidade é autora de uma ação na 22ª Vara Cível Federal de São Paulo, contra a Serasa Experian. A iniciativa tem como foco a denúncia feita pela empresa PSafe de que o bureau de crédito teria sido responsável por um vazamento de dados que expôs 223 milhões de CPFs e 40 milhões de CNPJs.
“Geralmente, principalmente no ecossistema de inovação e startups, a preocupação com a melhoria da experiência do usuário de produtos e serviços ganha maior relevância do que as questões relacionadas à segurança”. É o que afirma Marcos Rodrigues, sócio-fundador da BR Rating, primeira agência de classificação de risco e avaliação dos sistemas de governança corporativa do Brasil. Segundo ele, colocar as questões de segurança em um segundo plano é erro e vai na contramão no desenvolvimento das boas práticas em governança corporativa, que proporcionam, dentre outras práticas, melhor gerenciamento de riscos, maior transparência de informações financeiras, sistemas de compliance mais robustos e maior alinhamento das diretrizes e políticas entre os stakeholders.”
Ainda assim, as perspectivas são positivas, pois segundo o Gartner, até 2023, os gastos organizacionais com tecnologias de gerenciamento de riscos para apoiar a devida diligência e monitoramento aumentarão em 50%. “As empresas estão com muita pressa de resolver suas situações para iniciar um novo tempo e não estão dispostas a esperar pelos processos manuais. Temos registrado um crescimento constante da procura por nossos serviços desde o ano passado, mas nos últimos meses a demanda se intensificou e podemos afirmar que houve um aumento de 320%”. A opinião é de Alexandre Pegoraro, CEO da Kronoos, startup que oferece uma plataforma de compliance que realiza pesquisas a partir do CPF ou CNPJ em mais de 2.500 fontes para conferir a idoneidade das pessoas e empresas.
É fato que a segurança no processamento de dados é um dos pilares da transformação digital e as empresas estão se movimentando para oferecer as melhores condições para que isso aconteça. Prova disso é que o patamar de organizações que se consideram perto ou muito perto da chamada maturidade digital teve um salto de oito pontos percentuais entre 2019 e 2020. No ano passado, as empresas que se consideravam neste patamar ficaram em 42,77% contra os 34,36% registrados no período anterior.
Os dados são do ICTd – Índice CESAR de Transformação Digital, estudo feito pelo CESAR, centro de inovação, educação e empreendedorismo com sede no Recife em parceria com a revista HSM Management. “Para entender o nível de maturidade digital de uma empresa é necessário avaliar de forma ampla os impactos da transformação, olhando para dentro e fora da organização. Neste sentido, a forma como elas tratam os dados e se relacionam com o ambiente regulatório certamente é um fator de grande importância”, conclui o Chief Design Officer do CESAR, Eduardo Peixoto.