Igor Romeiro*
Além de registrar o maior conflito bélico na Europa após a Segunda Guerra Mundial, de vivenciar as eleições mais polarizadas do Brasil nos últimos anos, de sinalizar finalmente com o controle (não o final) da pandemia do coronavírus e de ocupar para sempre as nossas memórias com os gols, as vitórias e derrotas da Copa do Mundo, o ano de 2022 entrará para a história também como o período no qual se consolidou uma mudança de visão do mundo corporativo em relação às startups.
Após surgirem como motores de propulsão para as importantes inovações proporcionadas pela Transformação Digital, as empresas emergentes ganharam status que, em muitos casos, acabaram se mostrando exagerados sob o ponto de vista de resultados concretos. Isso porque o simples potencial de geração de negócios que elas apresentavam era entendido como se já tivesse se tornado real, mas o passar do tempo foi mostrando que entre a possibilidade e a realidade existe uma grande distância.
Essa diferença levou muitas startups tidas como ‘o próximo unicórnio’ a não corresponderem às expectativas geradas. Enquanto isso, houve um grande aumento dos juros diminuindo o apetite do mundo dos negócios por este tipo de empreendimento. Com isso, alguns investidores ficaram mais exigentes e outros preferiram investir parte do dinheiro na renda fixa.
Felizmente, passado este momento de deslumbramento otimista seguido por decepção alarmista, o equilíbrio recupera o espaço. Embora representem um tipo de investimento ainda considerado novo na carteira dos investidores, as startups seguem atraindo o interesse principalmente pelo fato de não serem afetadas pela volatilidade do mercado financeiro, das eleições ou de outras formas de especulações.
Mas agora, ao contrário do período dos ‘unicórnios fakes’, a verdade prevalece.
As startups são obrigadas a demonstrar bons fundamentos para que se acredite em seu potencial de crescimento e lucratividade. Antes de apostar nelas, existe uma busca séria e detalhada por informações sobre o ritmo de vendas de seus produtos, além da quantidade e da qualidade do quadro de funcionários, por exemplo.
Só para ter uma ideia do tamanho deste interesse, a Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina (LAVCA), até o momento, foram investidos mais de US$ 5,4 bilhões, ou R$ 29 bilhões, em startups latino-americanas, representando 541 acordos assinados. O Brasil continua sendo o maior mercado de investimentos da Venture Capital na região, com 2,2 bilhões investidos em 232 transações – equivalente a 41% do capital disponibilizado e 43% dos negócios da América Latina.
Além disso, estimativas apontam para a existência de aproximadamente R$ 18 bilhões de capital para investimento em empreendedorismo inovador no Brasil.
Outro estudo, elaborado pela Softex, envolvendo 63 organizações de todos os portes, mercados e regiões do país, revela que as startups são o principal perfil de parceiros em ações de inovação aberta, com 67% das indicações.
Informações como essas reforçam o entendimento de que as startups definitivamente estão longe de terem ‘saído de moda’, ao contrário dos ‘unicórnios fakes’.
A pesquisa global anual do Gartner com CIOs e executivos de tecnologia que acaba de ser publicada é contundente a respeito do tipo de retorno que se espera delas no desenvolvimento de inovações nos próximos anos.
Após reunir dados de 2.203 CIOs distribuídos por 81 países e em todos os principais setores da economia, a consultoria concluiu que a principal missão dos CIOs e líderes de TI a partir de 2023 é tomar medidas para acelerar o tempo de valorização e impulsionar o crescimento da empresa com investimentos digitais.
Ou seja, a partir de 2023 não bastará sinalizar com a possibilidade de dar muito certo em um tempo futuro indeterminado, como faziam os ‘unicórnios fakes’. Para conquistar investimentos, será preciso começar a dar certo imediatamente, se ainda não é o caso.
*Igor Romeiro é cofundador da Efund