Tokenização de ativos corresponde ao terceiro maior PIB do mundo. Por quê?

  • Por Arthur Farache

A tokenização de ativos deve atingir US$ 16 trilhões até 2030, o equivalente a cerca de 10% do PIB mundial. Trata-se de um crescimento de 50 vezes tomando como base o ano de 2022. Do total estimado, a maior parte é formada por ativos reais, segundo relatórios das instituições financeiras JP Morgan, Binance e Boston Consulting Group.

Para se ter uma ideia do tamanho que o mercado de tokenização terá em apenas oito anos, basta comparar com as economias de hoje. Para se ter uma ideia do tamanho relativo do potencial deste mercado, se existisse um país chamado Tokenização, ele seria o terceiro maior do mundo, atrás apenas dos EUA (US$ 26,95 trilhões) e China (US$ 17,7 trilhões). O valor de US$ 16 trilhões corresponde a 7,7 vezes o tamanho da economia brasileira previsto para 2023 (US$ 2,081 trilhões), segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI).

As projeções podem parecer exageradas quando colocadas em valores relativos como o que acabamos de fazer, mas ao entender a revolução trazida pela tokenização pode até se demonstrarem conservadoras. A redes blockchain trouxeram a capacidade de registrar tokens, que podem ser associados a ativos financeiros. Assim, qualquer ativo ou propriedade pode ser registrado em blockchain e vendido em formatos de tokens, que representam uma fração do valor.

Recente documento publicado pelo Federal Reserve, Banco Central dos EUA, intitulado “Tokenização: Visão Geral e Implicações para a Estabilidade Financeira”, explica que as tokenizações têm o potencial de fornecer uma variedade de benefícios, incluindo conceder aos investidores acesso a mercados que de outra forma seriam inacessíveis ou caros para entrar. O FED também acrescenta que à medida que a tokenização se expande, as instituições financeiras tradicionais podem ficar cada vez mais expostas aos mercados de criptoativos através da propriedade direta ou da garantia. Esta mudança introduz novas dinâmicas e interconexões, influenciando potencialmente os comportamentos do mercado de formas imprevistas.

A tecnologia torna os mercados mais eficientes e faz com que qualquer ativo seja acessível aos investidores pessoas físicas. Ao transformar o ativo em tokens, é possível aplicar com confiança em uma parcela do valor total e, desta forma, aplicações que antes só poderiam ser feitas por investidores com um elevado volume de capital, são democratizadas.

Tomemos por exemplo uma obra de arte. Uma operação lançada no Brasil em 2021 envolvia três telas do expoente da arte cinética, Abraham Palatnik. Na ocasião, a rentabilidade projetada era de 17,36% ao ano em um prazo de 24 a 36 meses. Embora as telas, juntas, valessem mais de R$ 650 mil, qualquer um com R$ 10 mil disponíveis poderia aproveitar a oportunidade e se tornar proprietário, mesmo que parcialmente, de um ativo muito valioso. Treze meses depois, a operação foi concluída com valorização de 27%, dez pontos percentuais acima do previsto.

A rentabilidade ficou bem acima de ativos tradicionais como CDI, Fundos Imobiliários ou ações. A título de comparação, nos últimos sete anos, o Artprice100, índice referência de mercado, obteve uma rentabilidade de 78,59%, superando os tradicionais ativos do mercado. O dólar valorizou 58,03% e o Ibovespa cotado em dólar registrou queda de 8,41%. Já o CDI, quando dolarizado, apresenta recuo de 2,34%. O Artprice100 simula investimentos nos 100 artistas mais bem-sucedidos do mercado de arte mundial com base em sua receita de leilões entre (01 de janeiro de 2017 a maio de 2023). O índice também leva em consideração o critério de liquidez para cada artista, pelo menos 10 obras e devem ter sido leiloados anualmente para fazerem parte dos cálculos.

Aqui falamos de obra de arte, mas o mesmo está acontecendo com uma ampla gama de ativos, como bebidas raras, royalties de cinema, royalties musicais, imóveis, precatórios e outras n opções. Já pensou em comprar o catálogo de um cantor famoso e obter ganho cada vez que sua obra é tocada? Sim. Isso já é possível.

A revolução dos tokens tornou possível que as carteiras de investimentos sejam mais diversificadas sem empatar uma grande quantidade de capital e os mais jovens já descobriram isso. Tanto que agentes autônomos e consultores de investimentos sentiram a pressão do mercado e estão buscando ofertar ativos diferentes aos seus clientes. Isso porque os chamados ativos alternativos, por estarem descorrelacionados dos movimentos econômicos oferecem uma maior estabilidade dos rendimentos. Ora, a obra se valoriza independentemente de o Banco Central subir ou cortar a taxa de juros. As pessoas vão ouvir determinado artista porque gostam da música, seja em uma recessão ou em época de crescimento econômico.

Não é por acaso que corretores e agentes autônomos passaram a disponibilizar este tipo de investimento a seus clientes. Eles já perceberam que se trata de um caminho sem volta. A tendência é que o percentual de ativos alternativos, também chamados de ativos reais, seja cada vez maior no portfólio dos investidores daqui para frente. Os ativos reais têm como vantagem estarem no meio termo entre as aplicações tradicionais de renda variável e de renda fixa. Descorrelacionados do mercado financeiro tradicional, são menos voláteis do que ações da Bolsa de Valores e menos arriscados, porém, garantem retornos maiores do que a renda fixa e com a tokenização agora se tornaram acessíveis a todos.

  • Arthur Farache é CEO da Hurst Capital