* Por Eduardo Silva
A tradicional forma de escolha entre cara ou coroa na qual os competidores escolhem entre uma e outra face de uma moeda costuma decidir muita coisa importante e outras nem tanto na vida dos brasileiros. No caso do DREX, a moeda digital do Banco Central nem é necessário escolher entre um lado e outro, mas sim direcionar um pouco mais de atenção para uma característica que atualmente é relegada a segundo plano em detrimento de outra, mais ruidosa e sedutora, mas que deve demorar um pouco mais para trazer resultados.
Nesse ‘cara’ ou ‘coroa’ futurista, podemos considerar como ‘cara’ as propostas de funcionalidade que levam o novo instrumento a ser comparado a uma criptomoeda, como o Bitcoin ou outras que se tornaram ícones de sucesso no mundo digital e atraem muito a atenção. Já como ‘coroa’, os nossos olhares devem ser direcionados aos atributos que permitem ao DREX viabilizar o conceito de tokenização de ativos.
Neste sentido, enquanto cresce a cada dia a expectativa de novas experiências com o uso da ‘cara’, muitos estão deixando de entender que a verdadeira revolução acontecerá com a disseminação da ‘coroa’.
Neste contexto, a melhor forma de ver o DREX é com uma visão na qual ele funcionará como uma plataforma, ou seja; uma estrutura de agente garantidor que trará maior segurança e agilidade para processos e transações financeiras.
No que se refere à segurança seu maior diferencial é a possibilidade de desenvolvimento de smart contracts (contratos inteligentes) que trazem o Banco Central como agente de garantia fiduciário. Além disso, por oferecer registros em blockchain ele praticamente elimina o risco de corrupção de dados em qualquer etapa da jornada.
Já no caso da agilidade podemos pegar como exemplo a compra de um imóvel.
Atualmente, quando alguém adquire um imóvel, após negociar com o vendedor ficam pendentes questões como a data do pagamento e quando o comprador efetivamente receberá a posse do que adquiriu, uma vez que pelo modelo estas etapas não acontecem simultaneamente.
Na prática, invariavelmente após fazer a quitação do valor acordado, o comprador tem que esperar até que um cartório faça a mudança da matrícula para depois refazer o registro da mesma e na sequência aguardar um pouco mais para a efetivação desse registro. Normalmente essa jornada é abusadamente morosa fazendo com que o novo proprietário só consiga ter efetivamente a posse daquele bem em até 60 dias após a realização do pagamento.
Projetando agora como essa mesma transação será feita com o DREX, acontecerá o seguinte: a matrícula do imóvel estaria tokenizada e assim, na liquidação financeira o token passa a ser automaticamente de posse do comprador e permitindo agilizar absurdamente a realização de novas operações no mercado.
Vejam que fantástico, a partir do momento que ele tem um imóvel com um token associado e pode, por exemplo, fazer operações de crédito, utilizar como garantia de outras aquisições e uma enormidade de outras possibilidades utilizando o token que está vinculado a uma matrícula vinculada a um determinado imóvel.
Outro aspecto importante é a facilidade no olhar do credor de tomar posse do bem em caso de não pagamento. Com esse processo, a partir do momento que ele não pagar essa dívida, automaticamente esse token passa a ser de propriedade daquele que era o credor da operação.
Operações com este princípio já estão sendo feitas, por exemplo, com recebíveis de cartão de crédito tokenizados. Com eles os estabelecimentos comerciais podem fazer a transferência desses recebíveis para pagar os seus fornecedores de uma forma rápida, segura e econômica.
Não por acaso a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) cita estudos baseados em dados do Fórum Econômico Mundial (WEF) e de consultorias como Deloitte e McKinsey que projetam a movimentação financeira global em torno da tokenização para cifras de cerca de US$ 24 trilhões em 2027. Esse volume representaria algo próximo a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
Todo este potencial deixa claro que o DREX está trazendo como grande revolução uma agilidade para o fluxo de transações financeiras do país e quanto mais rápido for possível fazer uma transação, mais rápido será possível desenvolver a economia brasileira.
Então, antes de apostar todas as fichas na cara, pense com muito carinho sobre as vantagens que é possível obter com a coroa.
* Eduardo Silva é Co-Founder & CEO do EDAN Finance Group