A explosão das apostas esportivas no Brasil acendeu um alerta vermelho nas instituições financeiras e no próprio Banco Central. O fenômeno, que hoje movimenta mais de R$ 120 bilhões por ano no país, já provoca efeitos concretos no comprometimento de renda das famílias brasileiras e na qualidade das carteiras de crédito dos bancos. Segundo dados do Instituto DataSenado, entre os brasileiros que apostaram no último mês, 42% estavam com dívidas em atraso há mais de 30 dias, enquanto o mercado calcula que mais de 22 milhões de brasileiros tenham realizado apostas recentemente — um contingente equivalente a 13% da população adulta.
Em audiência na CPI das Apostas Esportivas no Senado, realizada recentemente, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou a gravidade do cenário. Embora tenha reconhecido que a autoridade monetária não possui competência legal para regular as apostas, ele destacou que o BC já observa um impacto direto do fenômeno nas carteiras de crédito, com um crescente uso de linhas como o crédito consignado e o crédito pessoal para financiar apostas. “Identificamos um fenômeno relevante do ponto de vista do comprometimento de renda”, alertou.
Além de aumentar a inadimplência, o comportamento de apostar influencia diretamente no custo do crédito para o consumidor. “Por ser mais arriscado emprestar para apostadores, o custo do crédito para eles fica mais alto ou a liberação do empréstimo mais difícil. A aposta entrou naquilo que o setor chama de score de crédito”, completou Galípolo durante a audiência.
Os primeiros resultados da aplicação prática do Score de Probabilidade de Aposta da Datarisk confirmam que o cenário é preocupante. Lançada em novembro de 2024, a solução de inteligência artificial foi projetada para estimar a probabilidade de um consumidor realizar apostas online nos três meses seguintes, oferecendo uma camada adicional de análise para decisões de concessão de crédito.
Os testes realizados com instituições financeiras revelaram que clientes com alta propensão a apostas apresentaram inadimplência superior a 5%, praticamente o dobro dos 3% observados entre aqueles com baixa probabilidade. “Conseguimos comprovar que o crescimento das apostas esportivas está, de fato, impactando a inadimplência”, afirma Carlos Relvas, fundador da Datarisk. “Mais importante: demonstramos que o uso do score ajuda efetivamente as instituições a ter um controle muito mais apurado do risco de crédito.”
Em um dos bancos parceiros, o Score de Apostas elevou o KS do modelo de risco em 3 pontos, o que resultou em uma redução superior a 10% na inadimplência esperada. Mesmo instituições com sofisticadas estruturas de análise de crédito observaram ganhos relevantes ao incorporar a solução da Datarisk, reforçando seu papel como ferramenta complementar às metodologias tradicionais.
Além do impacto direto na inadimplência, os dados da plataforma traçam o perfil do apostador brasileiro: 70,8% são homens, com média de idade de 34 anos; 63,9% têm vínculo formal (CLT), com renda média de 4,7 salários-mínimos. O que reforça ainda mais a necessidade de monitoramento: trata-se de um perfil que até então seria classificado, pelos critérios tradicionais, como relativamente estável, mas que agora exige uma análise de risco mais sofisticada.
“O Score de Apostas permite que as instituições financeiras se antecipem a tendências de inadimplência antes que elas se consolidem”, conclui Relvas. “Estamos diante de uma transformação no comportamento do consumidor de crédito, e soluções como esta são essenciais para proteger tanto o sistema financeiro quanto os próprios consumidores.”