Painel do South Summit mostra a tokenização redesenhando o mercado de capitais

A tecnologia blockchain avança para além das criptomoedas ganhando protagonismo como base para uma transformação estrutural no mercado de capitais. Esta foi uma das principais constatações do painel “Potential Applications Within Blockchain” realizado hoje (11) no South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre. A discussão abordou a tokenização de ativos do mundo real como uma das principais tendências da nova economia digital. A proposta é simples: converter ativos como recebíveis, imóveis ou produtos financeiros estruturados em tokens digitais, ampliando liquidez, reduzindo custos e abrindo o acesso a investidores antes excluídos desse mercado.

“A tokenização resolve o problema de quem investe e de quem capta. Ela só cria resistência entre os intermediários”, afirmou Reinaldo Rabelo, CEO do MB (Mercado Bitcoin), ao defender uma transformação que permite a desintermediação e a democratização de ativos de alto valor. Para ele, a revolução da blockchain está apenas começando, com impacto direto na infraestrutura do mercado financeiro, no empreendedorismo e na geração de novas oportunidades econômicas.

Com essa lógica, empresas como a Nexa Finance desenvolvem soluções que personalizam investimentos a partir do perfil do investidor, combinando ativos tokenizados em carteiras digitais customizadas. “Historicamente, os melhores investimentos sempre estiveram restritos aos mais ricos. A tokenização permite romper esse ciclo”, reforçou Lucas Danicek, CEO da Nexa. A chave está na combinação entre curadoria, governança tradicional e tecnologias emergentes.

Esse novo desenho de mercado vem impulsionado por uma mudança de mentalidade. A adoção de blockchain não se limita a inovação técnica, mas representa uma transição no modelo de distribuição de valor. Reinaldo Rabelo relembrou: “A gente começou o MB em 2013 já com a visão de integrar cripto ao mercado financeiro tradicional. Hoje, esse movimento é irreversível.”

Avanço regulatório e credibilidade crescente

Um dos motores dessa expansão é o avanço regulatório no Brasil. A aprovação da chamada “lei cripto” em 2022 criou as bases para a regulamentação dos prestadores de serviços de ativos virtuais. Agora, Banco Central e CVM discutem normas específicas para setores como stablecoins e tokenização. A orientação atual já permite que empresas operem com estruturas conhecidas, como plataformas de crowdfunding e securitizadoras.

A regulação, segundo os participantes do painel, não inibe a inovação — ao contrário, oferece segurança jurídica e reforça a credibilidade do setor. “Onde há sociedade, há direito. E onde há mercado financeiro, há regras. O desafio está em construir uma regulação que favoreça a inovação e a eficiência, sem ser moldada exclusivamente pelos interesses dos intermediários”, defendeu Rabelo. O MB já opera dentro de modelos regulados no Brasil e na Europa, apostando em um diálogo construtivo com autoridades para moldar um ambiente de inovação responsável.

Impacto econômico e conexão com o ecossistema empreendedor

O Brasil já desponta como o sexto maior mercado global em adoção de criptoativos, de acordo com dados citados por Renata Petrovic, head de inovação do Bradesco. Com uma estimativa de crescimento global do mercado de blockchain dos atuais US$ 20 bilhões para US$ 250 bilhões até o fim da década, o país tem condições de exercer protagonismo. “É uma nova classe de ativos sendo legitimada, com capacidade de movimentar todo o ecossistema financeiro”, afirmou Renata.

Nesse cenário, no Brasil, o MB se posiciona como um dos principais vetores dessa transformação. Além de sua atuação como banco digital e gestora autorizada pela CVM, o grupo opera a unidade MB Startups, voltada ao ecossistema empreendedor. A estrutura conecta startups e empresas privadas de alto potencial a capital por meio da infraestrutura blockchain do MB, já tendo viabilizado mais de R$ 1 bilhão em captações para negócios como Asaas, Gringo, GV Angels, entre outros – para participação em equity, direitos econômicos, dívidas ou produtos estruturados.

Maturidade de mercado e próximos passos

Para Denis Rocho, CEO da Declare Cripto, a rastreabilidade e a imutabilidade da blockchain também oferecem ganhos importantes em transparência e redução de custos com auditorias. “A tecnologia ajuda até na declaração correta dos ativos, algo cada vez mais relevante com a regulação avançando”, comentou.

O painel também abordou o uso do blockchain em setores como saúde, educação e registro de dados sensíveis, além do papel da tecnologia no combate à fraude e no fortalecimento de mecanismos de compliance. Com a expansão da tokenização, a integração entre infraestrutura tradicional e novas tecnologias tende a se consolidar. E, no centro dessa transformação, o Brasil desponta com uma base regulatória em construção, empreendedores conectados à inovação e empresas como o MB liderando a adoção prática de uma tecnologia que redefine o mercado de capitais.