Belas inovações em Fintech requerem inspiração – e uma boa dose de método e capacidade de execução
Em plena Florença renascentista, nos idos de 1418, o célebre arquiteto Felippo Brunelleschi ganhou o concurso em que sua solução – engenhosa, ambiciosa e inovadora para a época – foi a escolhida para a construção da cúpula da Catedral Santa Maria del Fiore, ícone da cidade e um dos símbolos mais reconhecidos da arquitetura renascentista.
O mais incrível é que a solução ganhadora do concurso não poderia ser construída com o maquinário tradicional. Sr Brunelleschi sabia que a execução da cúpula – imensa e pesadíssima – pressupunha a criação de outras inovações, talvez ainda mais brilhantes e revolucionárias.
Os grandes arquitetos renascentistas foram aqueles que perceberam cedo que as grandes criações não seriam tão fantásticas sem inspiração combinada a pesquisa, método e ferramentas inovadoras. Somente assim os grandes mestres superariam as barreiras, até então intransponíveis, da engenharia.
Hoje, as Fintechs (de Financial Technology, ou seja, startups que atuam no mundo financeiro) ganham as primeiras páginas e surpreendem os bancos tradicionais por trazerem ao mundo financeiro soluções desenhadas para atender um público cada vez mais exigente e mobile. Para isso, novas capacidades foram criadas e combinadas a um olhar atento às necessidades do cliente. A experiência do usuário, ao relacionar-se com serviços financeiros, passa a ser frictionless, com interações prazeirosas que remetem ao uso de apps populares e não-financeiros – Uber, Facebook, Whatsapp.
Como no caso dos mestres renascentistas, as grandes Fintechs não nascem sem uma boa dose de inspiração (sempre focada na experiência do usuário) e de capacidade de execução diferenciada. E são justamente estas capacidades que tiram o sono dos bancos tradicionais.
A criação de um modelo de inovação sustentável e contínua nunca foi tão urgente para o Banco tradicional
A indústria financeira percebeu há pouco que empresas nascidas fora do modelo tradicional, sem os legados, burocracias e processos característicos de um Banco tradicional, são ameaças importantes a fatias de sua usual rentabilidade.
Estes novos pretendentes, as Fintechs, incomodam pois oferecem, predominantemente, uma experiência diferenciada ao cliente, baseada no entendimento profundo de uma necessidade específica e em muita tecnologia para atende-la.
As Fintechs nasceram digitais, ágeis e, talvez mais relevante, focadas em solucionar problemas vividos pelos clientes em seu cotidiano financeiro que os Bancos tradicionais ou não foram capazes de resolve-los ou não se interessaram por faze-lo.
Ainda em tempo, muitos participantes do sistema financeiro perceberam os riscos que corriam por, pelo menos, não terem uma diretriz estratégica que os permitissem (1) acompanhar as inovações trazidas por estes novos players que tivessem boa aderência com seu roadmap estratégico; (2) avaliar as opções de make, buy, partner relacionadas às inovações mais relevantes; (3) criar uma cultura e uma plataforma de inovação contínua e sustentável
Comece pequeno, mas logo
Nas minhas andanças pelo mundo de Fintech, como empreendedor e consultor, vejo que o tamanho do desafio muitas vezes assusta e paralisa a ação. A minha recomendação é sempre a de buscar um modelo consistente conceitualmente e aplica-lo em uma dimensão que, embora ousada, seja ainda pequena e permita uma aplicação prática sem muita burocracia e com muito aprendizado. Nesta jornada, os drivers abaixo devem ser sempre levados em consideração:
- O fit estratégico deve direcionar os esforços: muitas vezes, os Bancos têm dificuldade de focar esforços e investimentos em inovação pois as suas prioridades estratégicas não são claras. Impactos relevantes somente serão capturados a partir de um fit estratégico claro do qual dependem a avaliação de oportunidades e uma execução bem coordenada.
- Invista na flexibilidade operacional: as boas oportunidades virão e serão colocadas à prova. Um modelo operacional antiquado e burocrático será fatal para qualquer boa ideia que almeje o status de disruptiva. Além dos aspectos tecnológicos, os modelos de governança, jurídico e operacional precisam ser ajustados.
- Desenhe serviços focados nas necessidades do cliente: tenha sempre em mente a jornada do cliente ao interagir com seus serviços; remova barreiras, foque na usabilidade e simplicidade; faça muita pesquisa; questione o tradicional.
- As inovações devem gerar resultado: com diretrizes e objetivos claros, combine as melhores práticas internas e externas, dentro de um ambiente que promova a inovação. Invista em excelência na execução e não se canse da rotina de test & learn. Por fim, estabeleça métricas e acompanhe a evolução do negócio com disciplina.
E não se esqueça da inspiração
O brilho de uma solução vem justamente da capacidade de resolução de um problema cotidiano do cliente (empresa ou indivíduo). Uma vez pertinente e fácil de interagir, a solução gera engajamento e satisfação.
Gosto de pensar na reação de satisfação de um cliente como aquela provocada pelo primeiro olhar de uma boa obra renascentista. Dica: não se contente por uma reação menos surpreendente do seu cliente quando você testar a sua próxima solução de Fintech no mercado.