Não há dúvidas que Fintech é o tema do momento no mercado financeiro. Dei uma entrevista para a revista Credit Performance que gostaria de compartilhar com vocês!
Sintam-se à vontade para adicionar comentários e para entrarem em contato caso queriam mais informações.
Depois das inovações tecnológicas impactarem diversos setores, parece ter chegado o momento da indústria financeira se reinventar. O que já está acontecendo nesse setor mundo afora e o que vem pela frente?
O movimento de FinTech no mundo já vem ocorrendo há muitos anos. O que tem deixado este movimento mais evidente é a consolidação das plataformas mobiles e as redes sociais. Isto tem aumentado a quantidade de ferramentas que tem chegado aos clientes finais. O investimento em 2014 em Fintech foi de pelo menos 7 bilhões de dólares no mundo.
No Brasil o movimento de Fintech é mais bastante recente e isto está ligado a uma séries de fatores, como acesso a investimentos, conservadorismo e concentração do mercado financeiro, grande regulamentação do setor, inclusão social e acesso a tecnologias, entre outros.
As oportunidades de FinTech existem em muitas áreas, só para enumerar algumas: big data / analytics e modelos preditivos, moedas digitais, inclusão financeira, ferramentas de gestão financeira, infraestrutura e tecnologias operacionais, plataformas de empréstimos, mobilidade, pagamentos, segurança, mídia social e ferramentas de colabaração.
Outro movimento que vem acontecendo é a transposição de mercados. Várias emmpresas tem surgido como forma de facilitar a integração de diferentes mercados, como plataformas de pagamento para lojas de e-commerce internacionais.
Outro movimento muito forte que tem surgido relacionado a países em desenvolvimento é o de inclusão social. Números dos World Bank indicam que há mais de 2,5 bilhões de pessoas e 200 milhões de pequenas empresas com dificuldade de acesso a serviços básicos financeiros e crédito.
Como as empresas e birôs de crédito e cobrança podem atuar com o objetivo de não ficarem ultrapassadas e manterem a competitividade?
Durante muito tempo os birôs de crédito e cobrança atuam como braços de terceirização de bancos e instituições financeiras. Apesar de declararem possuir propostas de valor diferenciadas, no fundo, seu atrativo está na redução do custo operacional para os bancos.
O ponto é que a revolução tecnológica do ponto de vista dos clientes tem mudando seu olhar sobre a forma que se relacionam com tudo na vida. Os bancos tem sido lentos em lidar com esta evolução. As empresas de crédito e cobrança podem se colocar à frente deste movimento provendo uma melhor qualidade de serviço não apenas para os bancos, mas com o olhar do cliente final.
Tive uma experiência um dia desses quando esqueci pagar uma fatura da internet. Uma empresa de cobrança me ligou para me lembrar. Pedi que eles me mandassem uma fatura por email para eu que eu fizesse o pagamento mas me disseram que não poderiam prestar esse serviço e que eu deveria entrar em contato com a prestadora de serviços para pedir uma segunda via. Isto não é mais possível nos dias atuais. As pessoas querem facilidade para resolver as questões do dia a dia.
Costumo dizer que as empresas que estão no nosso top of mind – de maneira positiva – são aquelas que “get the jobs done”. O que queremos é que facilitem nossa vida e para isso é necessário um olhar voltado para o cliente. Quantas empresas de cobrança e crédito fazem pesquisa ou conversam com os clientes finais para conhecerem a melhor sua jornada? Poucas ou nenhuma. Veja bem, somente fazer pesquisa não é suficiente. Muitas vezes o cliente não vai saber o que é melhor para si. Para isso é preciso metodologia de inovação para capturar estes insights e traduzí-los em serviços diferenciados. Isto é o que fazemos na Clay Innovation, a agência de inovação da qual também sou sócio-fundador.
Mas as oportunidades vão além. Hoje existe muito espaço para aumento de eficiência da operação seja do ponto de vista tecnológico ou do uso de informações. A quantidade de dados disponíveis para classificação do risco do cliente é cada vez maior. Por outro lado, os bancos ainda continuam utilizando as mesmas informações para avaliação do perfil de crédito que utilizavam no passado. Quem trabalha melhor as informações para geração de conhecimento e aplicação na prática, sai na frente.
Do lado B2B também existem diversas oportunidades de prestação de serviços, especialmente para o mercado de pequenas e médias empresas. A Intoo, por exemplo, encontrou um nicho para oferta de linhas de crédito de curto prazo. Como levar serviços que estão disponíveis para empresas corporate há anos para outros nichos? Por exemplo, produtos de tesouraria, fechamento de caixa, etc… As oportunidades estão aí, mas é preciso sair do dia a dia para identificá-las e colocá-las em prática. Este acaba sendo o maior desafio para todas as empresas.
Onde, quando e por que surgiu o Fintech Lab?
Além do FintechLab sou um dos fundadores da agência de inovação Clay Innovation onde prestamos consultoria em inovação de serviços para diversas indústrias. Eu e os demais sócios trabalhamos durante muito tempo como executivos da indústria financeira e temos um olhar bastante profundo unindo os dois temas – inovação de serviços e mercado financeiro.
Neste sentido, sentíamos falta de uma plataforma de debate de ideias, organização e fomento das iniciativas de Fintech no Brasil. O FintechLab nasceu com o intuito cobrir este gap. O primeiro produto do FintechLab foi o Radar FintechLab, onde começamos a organizar as principais iniciativas de startups existentes no Brasil relacionadas ao tema.
O Radar é um grande sucesso, mas é só o início. Temos muitas ideias e iniciativas que estarão se concretizando nos próximos meses. Entre estas iniciativas, estamos promovendo a aproximação de startups com empresas já consolidadas da indústria. Esta é uma das formas que enxergamos de alavancar as duas pontas e acelerar o desenvolvimento do setor.
Também estamos levando o debate de fintech para dentro de empresas consolidadas, dentro ou fora do mercado financeiro, através da realização de palestras e workshops. Esta combinação permite não só que a empresa se informe do que está acontecendo, mas também lhe dá a oportunidade de interagir com o tema com a moderação de uma equipe experiente em inovação.
Quais são as principais tendências na área de tecnologia financeira?
A concentração de iniciativas está relacionada principalmente a atividades recorrrentes do dia a dia. As pessoas e empresas querem soluções que facilitem sua vida e tragam uma experiência que chamamos de “frictionless”.
Neste sentido soluções de mobile payments, gestão financeira e gestão de investimentos tem ganhado bastante foco.
A facilitação do dia a dia é beneficiada não apenas por serviços mais simples e intuitivos mas também pela entrega de conhecimento. O eToro, por exemplo, uma platafoma de investimento nos EUA, se utiliza do conhecimento coletivo para se alavancar. Lá você pode seguir a estratégia de investimento de uma deteminada pessoa e esta pessoa será remunerada pelos seus seguidores.
Outros movimentos estão acontecendo, mas ainda são incertos, como o mercado de encrypted coins, onde o Bitcoin se insere. Grandes instituições como BBVA e Barclays passaram a investir nesta iniciativa. Na Asia também este movimento tem ganhado força, especialmente em função da diversidade de moedas do continente e da quantidade de pessoas sem acesso a serviços financeiros.
Na sua opinião, quais são os principais cases de negócios tecnológicos ou de ruptura que impactaram o sistema financeiro e as empresas de crédito e cobrança?
Nos EUA existe diversas empresas posicionadas como plataformas de empréstimos, seja no modelo de oferta de produtos disponíveis de instituições financeiras, como é o caso da Intoo no Brasil, seja no modelo peer to peer. Este último modelo, que envolve a intermediação direta de empréstimos entre tomadores e investidores, sofre barreiras de regulamentação no Brasil.
No Brasil ainda é muito difícil a existência de serviços financeiros desvinculados de bancos, seja em função da regulamentação ou da concentração do mercado.
Desta forma, os serviços de crédito e cobrança ainda estão se focando a intermediação entre os clientes finais e as instituições financeiras. No caso de cobrança, posso citar o Kitado como um case interessante de platafoma digital de negociação.
Ainda temos muitas barreiras culturais para quebrar. Acho que logo, logo teremos algum caso no estilo Über para esquentar nossos debates.
Há algum outro ponto relevante que você queira destacar?
O momento é bastante positivo. Existe uma onda que está vindo beneficiando o fomento aos debates, investimentos e ideias no mercado de Fintech. Empreendedores, empresas consolidadas e fundos de investimento devem estar atentas às oportunidades.
Link: http://www.creditperformance.com.br/web/credit-performance-novembro-2015/