O setor de fintech– startups que trabalham com finanças e tecnologia – nunca esteve com perspectivas tão promissoras. Só que o Brasil apresenta diferenças significativas em relação aos países desenvolvidos, em especial os EUA.
Essa minha percepção veio de quatros anos à frente da Konkero (www.konkero.com.br), maior portal de finanças pessoais do Brasil. Listo abaixo os quatro aprendizados mais importantes.
50% da população está negativada
No Brasil 50% da população adulta está negativada. Isso significa que essas pessoas não conseguem abrir conta em banco e terão bastante dificuldade em conseguir crédito. Só que essas pessoas estão na internet e estima-se que sejam ao menos 1/3 dos usuários da web. Aí existem duas oportunidades. Uma é a de criar produtos atraentes para os negativados que são bons pagadores. Com certeza um mercado imenso e pouquíssimo explorado. A segunda é que as empresas que não trabalham com negativados precisarão criar sistemas de inteligência que consigam filtrar previamente esses consumidores para reduzir seus custos de operação e aquisição de clientes.
Mais de 50% da internet brasileira é de pessoas com baixo nível educacional
Nosso país tem 74% de pessoas que são analfabetas funcionais ou têm alfabetização básica. Considerando que já temos 50% da população na internet, não é difícil estimar que pelo menos metade dos usuários de internet no Brasil tem dificuldade em compreender textos mais elaborados, tabelas, gráficos e juros compostos. Quem conseguir falar fácil e de forma simples atingirá um mercado muito maior.
Brasileiro já faz muitas pesquisas de serviços financeiros online, mas ainda fecha pouco
O brasileiro já pesquisa muito online, mas ainda fecha relativamente pouco serviços financeiros pela internet – se comparado com o mundo offline. Isso vai mudar. Mas ninguém sabe se em um, dois ou cinco anos. Até lá,as startups de serviços financeiros que vendem crédito, consórcios, seguros, etc. terão um custo alto de aquisição para uma baixa conversão comparada a países desenvolvidos. Conseguir manter custos operacionais baixos será fundamental para sobrevivência dessas empresas.
Mesmo online, o brasileiro ainda quer um atendimento off-line
Uma grande parcela dos brasileiros que pesquisa serviços financeiros online, ainda prefere ter algum tipo de contato humano para fechar a compra. Esse contato pode ser por telefone, Whatsapp ou uma visita presencial. Isso significa que startups online precisarão ter estruturas off-line para atender e converter clientes. Isso representa maiores custos de operação e desafios de como criar um negócio rentável. Além disso, um grande contingente de usuários vai usar os sites de venda de serviços financeiros para comparar e depois fechar numa loja física. De novo, é preciso desenvolver soluções de inteligência para identificar qual usuário está mais disposto a fechar a compra do que está apenas comparando.
Esses quatro aprendizados são uma pequena amostra de como modelos importados terão de se adaptar bastante ao mercado brasileiro. O lado bom é que isso se constitui em uma imensa oportunidade para startups brasileiras assumirem posição de relevância em nosso mercado.
Quem entender melhor a dinâmica online do Brasil sairá na frente.
Autor Convidado:
Guilherme de Almeida Prado é fundador da Konkero.