Londres vem se consolidando como um dos maiores centros de inovação tecnológica do mundo, atraindo valores recordes de investimento ano após ano. Em 2015 foram investidos $3,6 bilhões de libras em startups do Reino Unido, sendo que desse valor quase $2,3 bilhões (64% do total) teve como destino final empresas da capital britânica, de acordo com dados compilados pela London & Partners, escritório de promoção de investimentos ligado a prefeitura da cidade.
Embora as startups locais atuem em diversos setores, a vocação financeira histórica da cidade, a presença dos maiores bancos do mundo e a integração entre governo, órgãos reguladores e a comunidade empreendedora proporcionam um ambiente muito favorável para inovações financeiras, por isso Londres é um dos maiores pólos para Fintech Startups da atualidade.
Nesse cenário, acontecerá entre 15 e 22 de julho a 3ª edição da London Fintech Week com mais de 100 palestras de empreendedores, especialistas, fundos de ventures capital e reguladores, interagindo com mais de 1.500 participantes do mundo todo, discutindo o futuro dos serviços financeiros, seus impactos regulatórios para as autoridades, para os consumidores e também tentando prever as consequências do Brexit nesse contexto.
Vamos acompanhar todo o evento e compartilhar com vocês direto de Londres. Fiquem ligados!
Para começar essa cobertura conversamos com Luis Carranza, organizador da LFW, sobre as expectativas para a conferência, sobre o Brexit e outros assuntos, confira a seguir:
Conte-nos um pouco da sua trajetória e como você se envolveu com a cena de Fintech Startups?
Luis: Eu sempre trabalhei com Marketing e Estratégia Digital e há aproximadamente 5 anos eu queria participar do movimento de criação de startups e negócios na internet que estavam crescendo bastante, foi aí que organizei um primeiro evento de tecnologia, basicamente 12 pessoas em um pub! Isso foi em 2011 e desde então, faça chuva ou sol, o evento (London Silicon Roundabout) acontece todo mês e tem atualmente mais de 10.000 membros, um dos maiores meetups da Europa.
Enquanto organizava um workshop de inovação para a Western Union há 3 anos atrás, acabei me envolvendo com alguns especialistas em tecnologia de pagamentos, bitcoin e outros serviços financeiros e o potencial chamou minha atenção. Foi então que, depois de organizar pequenos eventos, palestras e conferências, decidi montar algo maior e começamos a preparar a primeira London Fintech Week. Nesse período, aceleradoras como Level 39, Barclays Techstars ainda estavam iniciando suas atividades, então pudemos caminhar juntos no desenvolvimento do ecossistema londrino de inovação tecnológica em finanças.
Além disso fui Diretor de Marketing do Innovate Finance, uma organização sem fins lucrativos que intermedia as relações entre a comunidade de Fintech Startups com órgãos reguladores, investidores, consumidores e instituições de ensino.
Pode nos dar alguns números e informações sobre a LFW 2016?
L: Serão mais de 100 palestras durante os 5 dias de apresentação, com um público de 200 a 350 pessoas por dia de diversas partes do mundo e de diversas indústrias. Teremos também startups mostrando seus serviços, grandes empresas expondo, escritórios de advocacia e órgãos reguladores.
Essa é a terceira edição da LFW, o que mudou desde 2014?
L: Sem dúvida o ecossistema amadureceu muito, os volumes de negócios e de pessoas aumentaram. Grandes empresas e bancos estão fazendo parcerias com as Fintechs e também alguns incentivos fiscais para investimentos em startups, como por exemplo o SEIS (Seed Enterprise Investment Scheme – UK Gov SEIS) tem gerado um efeito muito positivo.
A LFW está dividida em 4 grandes áreas: PAGAMENTOS, MERCADO DE CAPITAIS, BANCO DIGITAL/SEGUROS e BLOCKCHAIN. Qual desses assuntos deve atrair maior atenção esse ano?
L: Com base no número de participantes BANCO DIGITAL e SEGUROS deve ser o dia mais movimentado, isso nos surpreendeu, porque pagamentos digitais normalmente atraem mais holofotes principalmente por conta do atual furor sobre bitcoin e blockchain. Vamos acompanhar!
Falando sobre Londres como um pólo para Fintechs, é possível comparar a cidade com San Francisco ou Nova Iorque? Quais as principais diferenças?
L: Nós organizamos eventos no exterior também, chamado Blockchain Conference. Já levamos este evento para NY, San Francisco, Hong Kong, Dublin e Amsterdam, por isso podemos destacar algumas diferenças: San Francisco tem mais dinheiro circulando e a presença de gigantes de tecnologia como Cisco, Intel, Google, Facebook e outros, enquanto Nova Iorque conta com os grandes bancos e os principais escritórios de advocacia do país. Londres por sua vez, tem a vantagem de concentrar os grandes bancos, os escritórios de advocacia, o governo e também os reguladores, além de uma comunidade de startups bastante atuante, essa combinação proporciona uma especialização maior em serviços financeiros.
Você vê algum exit ou IPO no horizonte? Onde estão os unicórnios londrinos?
L: Após a decisão do referendo do dia 23 de junho e durante o andamento do Brexit acho pouco provável que aconteçam grandes transações ou IPOs devido a possibilidade de perda de acesso ao mercado europeu. Algumas empresas locais estão muito bem posicionadas, posso mencionar Transferwise, Lendinvest e o setor de P2P lending que vai muito bem, com valuation na casa das centenas de milhões de libras.
Sobre o Brexit, quais podem ser os principais impactos para as Fintech Startups?
L: O principal impacto será um menor acesso a capital de risco, principalmente local. Outro aspecto importante tem relação com acesso a talentos que podem perder o direito de trabalhar no Reino Unido. Por fim, os custos devem subir. Hoje, as startups contratam desenvolvedores de países do leste europeu como a Polônia, e esse acesso pode ficar comprometido afetando a competitividade como um todo. Em resumo a incerteza é a pior parte, pois reduz a capacidade de planejamento de médio e longo prazo.
Caso as empresas precisem se mudar, qual a cidade melhor posicionada para assumir o posto de novo Fintech Hotspot?
L: Algumas cidades já começam a “disputar” esse posto, Paris anunciou que deve baixar os impostos para serviços financeiros. Frankfurt, Amsterdam e Berlin também se movimentaram, esta última até fez uma campanha inusitada aqui em Londres, onde um caminhão andou pela cidade com um grande painel dizendo para as Startups manterem a calma e se mudarem para lá: “Dear start-ups, KEEP CALM AND MOVE TO BERLIN”! (Leia a matéria completa no The Sun)
Entre todas as opções acredito que a cidade melhor posicionada seja Dublin, por ser muito próxima de Londres, mesma língua, regime tributário atraente, enfim seria uma mudança mais simples de executar.
Falando agora sobre internacionalização, como as startups locais tem se posicionado nos mercados emergentes em especial América Latina?
L: Quando pensamos em mercados emergentes, a prioridade é Ásia por conta do tamanho do mercado, especialmente China. Em relação a América Latina acredito que ainda falta um esforço institucional para atrair investimentos. Um exemplo que lembro agora é o programa Startup Chile que incentiva startups a se instalarem no país por pelo menos 6 meses, oferece bolsa e também alguns incentivos fiscais. Fora isso, muitas equipes corporativas e de governo de alguns países como Colômbia e Brasil tem nos visitado, então acredito que haverá mais colaboração no futuro.
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