A última edição do Radar FintechLab divulgada no dia 24 de novembro trouxe uma ótima notícia para quem avalia o mercado de fintechs como opção para fazer carreira. O levantamento registrou a existência de 332 fintechs atuantes no Brasil que representam um aumento de aproximadamente 36% em relação às 244 iniciativas identificadas em fevereiro deste mesmo ano. Mas apesar deste ritmo acelerado de crescimento significar também a multiplicação de vagas de emprego no setor, os interessados em trabalhar nesta área devem ficar atentos para um alerta emitido pelos profissionais responsáveis pelas contratações: Não basta ser um bom técnico em TI para conquistar a vaga. Essas empresas estão interessadas em profissionais que também tenham um olhar atento para o mundo dos negócios.
Em entrevista ao FintechLab, a Head da Trigg, fintech que opera com cartão de crédito digital, Marcela Miranda (foto), revelou que a empresa tem atuado com um ritmo intenso de contratações e não será diferente em 2018. “Recebemos constantemente muitos currículos e existem sempre oportunidades abertas para contratações, mas nosso olhar tem sido cada vez mais direcionado para além da capacidade técnica do candidato. Tentamos encontrar pessoas que sejam competentes em desenvolver programas, mas que também consigam entender como funciona o mundo das finanças, as características diferenciais de uma fintech, a estrutura do mercado de cartões e outras condições fundamentais para o nosso negócio”, diz. Atualmente a empresa conta com 150 colaboradores e trabalha com a perspectiva de crescer até 30% deste montante em 2018.
Segundo ela, sem esse foco mais abrangente, o profissional de TI, por exemplo, tem uma tendência grande de entregar trabalhos incompletos que, inseridos no contexto da estrutura enxuta de uma fintech, acabam se transformando em prejuízo. “Se o desenvolvedor estiver focado somente na programação, ele vai criar todo um sistema que pode ser muito bom, mas não levar em conta, por exemplo, as exigências de compliance do mercado financeiro. Neste caso, ao final do projeto, todo o tempo investido nesta criação terá sido desperdiçado porque não será possível utilizar esta programação”, explica.
A gerente sênior de Recursos Humanos do Mercado Livre no Brasil, controlador da fintech facilitadora de pagamentos Mercado Pago, Helen Menezes, reforça esta preocupação. Segundo ela, a formação acadêmica e a experiência profissional contam, mas se um profissional extremamente qualificado não se adaptar à cultura de inovação e constante transformação, o que caracteriza as fintechs, o potencial dele não será bem aproveitado. “Para atuar nesse ambiente, o profissional precisa ser questionador, saber trabalhar de forma colaborativa, ter entusiasmo e querer impactar positivamente os empreendedores e consumidores com quem atuamos diariamente. É esse perfil de profissional que buscamos”, diz.
Em 2017 o Mercado Pago abriu 30 vagas, o que configura um número 30% maior que o ano anterior e a expectativa é que este ritmo de contratações permaneça em 2018. Menezes comenta que uma das alternativas encontradas pela empresa para encontrar os profissionais com o perfil ideal é o investimento em um processo seletivo que possa evidenciar qual é a realidade do projeto, a indústria na qual a empresa está inserida e os atributos culturais da companhia. “Não é algo que seja suficiente para solucionar o problema da escolha do candidato, dado que envolve pessoas, mas é importante que, em primeiro lugar, os processos identifiquem com facilidade e rapidez os candidatos que estão mais alinhados com o propósito da empresa”, diz
Marcela Miranda acredita que estes problemas de incompatibilidade entre o perfil das pessoas que procuram emprego e o tipo de profissional que as fintechs procuram sejam gerados em função de um período normal de maturidade que o mercado está buscando. “Hoje muitos jovens já identificam esta necessidade de uma formação mais flexível e começam a estudar áreas como negócios e administração, por exemplo, além de programação e outras áreas de TI”, diz. Segundo ela, a própria Trigg incentiva este tipo de iniciativa e tem cerca de 20 colaboradores envolvidos em cursos com esta característica. “É um trabalho de formiguinha mesmo. Um convencimento por meio de micro mudanças que vai gerar no futuro profissionais muito mais preparados para prover o suporte que as fintechs precisam “, diz.
Helen Menezes ressalta que o Mercado Pago busca profissionais que estejam alinhados com a cultura da empresa, que queriam trabalhar com ampla autonomia em um ambiente cooperativo. “Isso é essencial para que o próprio profissional se adapte da melhor maneira, se envolva com a proposta da marca e se desenvolva”, diz.
Marcela Miranda deixa uma recomendação aos que querem se desenvolver no desafiador mundo das fintechs. Segundo ela, não adianta ser específico. O mercado busca o profissional multidisciplinar. “Em fintechs não existe a figura do cara de TI. O cara de TI também tem que ser o cara de várias outras áreas”. conclui.