A oferta de ferramentas digitais que auxiliam gestores de pequenas e médias empresas cresce a cada dia, mas muitos ainda preferem realizar certas tarefas à moda antiga. Para acompanhar e controlar suas finanças, por exemplo, 61% dos pequenos empreendedores brasileiros utilizam cadernos para anotar receitas e despesas. É o que mostra uma pesquisa feita pelo CEAPE (Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos) para entender como a Educação Financeira está presente entre os microempresários.
Segundo o trabalho, 14,5% dos entrevistados afirmaram que utilizam planilhas para este fim, enquanto 9,1% disseram que “controlam tudo de cabeça”. Outros 7,9% responderam que não utilizam nenhuma das ferramentas mencionadas na pesquisa, e apenas 7% contam com apoio de um escritório de contabilidade.
Perguntados se separam as receitas e despesas pessoais das contas relacionadas aos seus negócios, 54% afirmaram que sim. Outros 25% disseram que tentam, mas que às vezes necessitam de recursos pessoais para fechar as contas na empresa. O restante alegou que não faz ou não vê necessidade para separação. Foram entrevistadas 242 pessoas.
Sobre o impacto já enfrentado pela falta de educação financeira, o problema mais apontado pelos entrevistados foi a dificuldade de pagar as contas do negócio (39,3%). Já 29,3% relataram dificuldade em pagar as contas pessoais ou de família. Outros 15,3% alegaram dificuldade para pagar fornecedores ou colaboradores. Os demais (16,1%) alegaram que já passaram por todos os problemas citados.
Para solucionar os casos mais extremos, quando há gastos emergenciais ou faltam recursos para pagar alguma conta, 38% disseram que recorrem à “reserva de emergência” do negócio. 32,2% buscam linhas de crédito ou microcrédito, enquanto 16,1% utilizam cartões de crédito. 13,6% afirmaram que pedem empréstimos a amigos ou familiares.
Cláudia Cisneiros, diretora executiva do CEAPE, avalia que os pequenos empreendedores enfrentam dificuldades para conseguir crédito no Brasil quando recorrem às instituições financeiras tradicionais, muitas vezes por não conseguirem provar que estão aptos a arcar com aquele recurso. Por isso, ela defende o microcrédito produtivo.
“Atualmente, se tornou comum em grandes bancos a oferta de microcrédito, porém o conceito não é o mesmo. O microcrédito das instituições comerciais tem um viés de consumo. É um CDC (Crédito Direto ao Consumidor) adaptado. Já o microcrédito produtivo não se limita ao dinheiro, mas também à educação financeira dos tomadores”, afirma a diretora, que foi uma das responsáveis por implementar a modalidade de microcrédito para pequenos empreendimentos no estado do Maranhão – posteriormente popularizada em todo o Brasil.
O diagnóstico da maioria (33,5%) é de que a falta de organização para realizar pagamentos é o seu principal erro financeiro, seguido das condições de pagamentos que não foram avaliadas corretamente (27,7%). 22,7% enfrentaram problemas por “comprar coisas na emoção”, sem avaliar o impacto futuro. O restante (16,1%) apontou que a escolha errada da fonte de pagamento ou financiamento já causou transtorno.
Cisneiros avalia que, em geral, empreendedoras e empreendedores brasileiros já entendem a importância de ter uma boa educação financeira para sustentar um negócio, porém muita coisa ainda é feita de forma desordenada. “Parece clichê, mas o conceito de ‘dar um jeitinho’ é muito presente quando falamos de administração de pequenas empresas. Antes, era mais comum que pessoas não fizessem nenhum balanço diário dos seus gastos e se desesperassem para “fechar a conta” nos últimos dias do mês. Hoje a maioria já entende que é importante fazer esse controle como forma de prevenção, mas descarta o auxílio de um profissional de contabilidade, por exemplo”, diz.