Um estudo feito pela Arthur Inc., energy tech especializada em monetizar energia ociosa, e pela Genial Investimentos mostra que a mineração de bitcoin teria gerado uma receita de R$ 165 milhões no País em 2023 e, desta forma, demonstrado um potencial para destravar o crescimento de novas fontes renováveis, como parques eólicos e solares.
“A mineração de bitcoin cumpre bem o papel de ser uma segunda fonte de demanda pela energia, tornando diversos projetos de geração economicamente viáveis. As implicações da existência de uma indústria que consome a energia ociosa para o mercado de energia são profundas e provavelmente mudarão alguns paradigmas da indústria”, diz Rudá Pellini, cofundador da Arthur Inc.
De acordo com Pellini, quando o Brasil planejou sua rede de energia, as projeções sobre o crescimento econômico e, consequentemente, sobre a demanda energética, foram otimistas. No entanto, o crescimento real ficou aquém das expectativas.
“Como resultado, atualmente, nosso sistema de geração produz uma quantidade de energia que supera o que nosso mercado realmente demanda. Isso indica não apenas uma infraestrutura superdimensionada, mas também que a economia não cresceu no ritmo esperado. O aproveitamento pleno do potencial energético do Brasil está atrelado à existência de uma demanda confiável”, complementa Caio Leta, Head de Research da Arthur Inc.
Além da criptomoeda proporcionar essa demanda de energia e a necessidade de novas fontes de oferta, – o que fomentaria o crescimento da geração distribuída de energia (GD), principalmente com fontes eólica e solar – essa operação pode reduzir as emissões de gases poluentes na atmosfera, em especial, devido à busca dos mineradores por fontes de energias renováveis e baratas, como a solar e a eólica. Por isso, a KPMG entende essa atividade como uma alinhada às práticas ESG.
Outra vantagem competitiva é que a mineração de bitcoin sempre priorizará fontes de energia sem outro consumidor, pois busca preços mais baixos. “A forma de dar uso à energia ociosa e, portanto, monetizá-la, é executando algum processo industrial de transformação da matéria-prima (energia) em produto (commodity), e o bitcoin pode ser entendido como uma commodity”, afirma Sergio Romani, líder de energia da Genial Investimentos.
De acordo com o estudo, a atividade poderia gerar uma receita de quase R$ 300 milhões em 2026 no Brasil em geração distribuída. O cálculo tem como base as projeções da ONS (Operador Nacional no Sistema Elétrico) do crescimento de minigeradores alimentados por energia solar na GD, com capacidade a partir de 500 kW. Caso essas atividades estivessem sendo realizadas em 2023, a receita aproximada poderia ter chegado na casa dos R$ 165 milhões.
“Isso significa que agora existe um incentivo para as geradoras de energia passarem a minerar bitcoin com sua energia ociosa, monetizando-a e diminuindo o desperdício energético. Ou seja, em todos os momentos em que a rede elétrica não está próxima do seu pico de demanda, vale a pena para as geradoras minerar bitcoin em vez de desperdiçar essa energia”, destaca Romani.
Empresas de energia dos Estados Unidos, como Exxon Mobil, Shell e Duke Energy, além da Tepco, maior companhia de Energia do Japão já utilizam esse excedente para minerar bitcoin, o que aponta uma tendência internacional à vista em que o Brasil pode ocupar um papel de destaque.