(*) Por Arthur Carvalho
O mercado de criptomoedas e câmbio tem atraído o interesse de um público crescente e variado, incluindo especialmente investidores e empreendedores que buscam entender mais sobre essas novas possibilidades financeiras. Nos últimos anos, as transações em criptomoedas e câmbio remodelaram a forma como lidamos com o dinheiro, seja ao negociar, transferir ou diversificar investimentos. Segundo dados da Receita Federal, o segmento de criptomoedas movimentou impressionantes R$248 bilhões no Brasil entre janeiro e setembro de 2024. Esse crescimento ressalta a importância de entender como as tecnologias de criptomoedas estão influenciando o futuro das finanças globais.
É nesse contexto que surgem as stablecoins, que têm o potencial de criar uma ponte robusta entre o mercado cambial tradicional e o ecossistema das criptomoedas. Elas são projetadas para minimizar a volatilidade do preço, atrelando seu valor a um ativo estável, como uma moeda fiduciária (por exemplo, o dólar americano), ou até mesmo a uma cesta de ativos. E, ao contrário do Bitcoin ou Ethereum, cujos preços podem oscilar drasticamente em curto espaço de tempo, as stablecoins buscam manter um valor relativamente fixo, o que as torna mais atraentes como unidades de conta e meios de troca.
Uma das suas maiores vantagens é a capacidade de conectar diretamente o setor de criptomoedas com o sistema financeiro tradicional. Em um cenário globalizado e em constante mudança, as stablecoins têm o poder de agir como uma camada de estabilização, permitindo que as criptomoedas se tornem mais acessíveis e utilizáveis no comércio diário. Antes de tudo, é importante entender que criptomoedas são moedas digitais que operam fora dos sistemas financeiros convencionais. Em vez de dinheiro físico, todas as transações são feitas digitalmente e, ao contrário de moedas como o dólar, o real ou o euro, as criptomoedas não estão atreladas a governos ou autoridades específicas. É um ecossistema global descentralizado onde são negociadas várias moedas digitais, como Bitcoin, Ethereum e muitas outras.
Em resumo, é onde pessoas compram e vendem essas moedas digitais, operando de forma semelhante aos mercados financeiros tradicionais, porém com algumas diferenças importantes, por exemplo, não há instituições centrais que controlam as transações, o que facilita o acesso global e elimina intermediários, tornando o processo mais ágil, e embora as transações sejam registradas publicamente no blockchain, a identidade pessoal dos envolvidos não é exigida, oferecendo um grau de anonimato.
Já o câmbio é o ambiente global onde moedas tradicionais são negociadas, facilitando transações internacionais, como pagamentos, recebimentos, investimentos e especulações. Este, por sua vez, é dividido em dois principais segmentos: o primário, que envolve transações de moedas estrangeiras para atividades como exportação e turismo, e o secundário, que é operado por bancos autorizados, onde ocorrem transações cambiais para diversos fins, incluindo investimento.
Além disso, as taxas de câmbio são definidas pela oferta e demanda das moedas e determinam os valores das conversões, como reais para dólares. Diferente das criptomoedas, o mercado cambial tradicional opera cinco dias por semana e é intermediado por instituições financeiras, como bancos centrais, especuladores, hedgers e investidores, cada qual influenciando as flutuações das moedas.
Pensando nisso, a fusão entre ambos, criptomoedas e câmbio, é cada vez mais relevante no cenário financeiro global, pois ambos impactam o valor e a acessibilidade dos ativos digitais e tradicionais. Para adquirir criptomoedas, utilizamos moedas tradicionais como o real, o dólar ou o euro. A taxa de câmbio entre essas moedas e as criptos, como Bitcoin ou Ethereum, determina diretamente o custo das transações, tornando essencial para os investidores o acompanhamento dessas flutuações.
Quando a moeda local se desvaloriza em relação ao dólar, por exemplo, o preço das criptomoedas aumenta em termos locais, exigindo mais da moeda nacional para comprar a mesma quantidade de ativos digitais. Essa dinâmica torna as criptomoedas uma opção interessante para proteção contra desvalorizações, mas também exige cautela e planejamento. Muitos investidores utilizam criptomoedas para diversificar e proteger seus ativos contra a volatilidade cambial. Em mercados com moedas instáveis, a migração para ativos digitais pode ser uma forma de evitar perdas. Por outro lado, moedas fortes e estáveis tornam o câmbio vantajoso para a compra de criptos, criando oportunidades em momentos de valorização da moeda local.
No futuro, a interconexão entre as stablecoins e os mercados financeiros tradicionais pode levar a uma forma mais integrada de dinheiro digital, permitindo que os consumidores se beneficiem tanto da estabilidade das moedas fiduciárias quanto da flexibilidade das criptomoedas. Se as questões regulatórias forem resolvidas de forma eficaz, as stablecoins podem se tornar uma das principais ferramentas financeiras de um sistema monetário global cada vez mais digitalizado.
(*) Arthur Carvalho é diretor e especialista em cryptos e ativos digitais do grupo Braza