Breno Costa*
Vivemos um momento de transformação digital. Mudança que faz cada vez mais pessoas terem contas digitais, mais consumidores fazendo pagamentos por meio do Pix, além do surgimento do open banking e, posteriormente, do open finance. Cada vez mais o mundo físico tradicional que conhecemos vai ficando para trás. O problema é que, paralelamente a essas inovações, aparecem novos mecanismos de fraude. Sem dúvida um dificultador para que o setor de crédito conceda mais empréstimos e com custo financeiro menor.
Para se ter ideia, uma pesquisa que resultou no mapa digital da empresa de tecnologia ClearSale mostrou que, em 2021, houve aumento de 58% nas tentativas de fraudes em comparação com 2020. Nesse cenário, a tecnologia evitou transações possivelmente fraudulentas no valor de R$ 5,8 bilhões. Um valor muito expressivo que justifica investimentos em mais inovação para aumentar a segurança do ecossistema financeiro.
Outro estudo, desta vez realizado pela Febraban no ano passado, mostra que 86% das pessoas entrevistadas tinham medo de serem vítimas de fraude. Percentual preocupante. Nesta mesma pesquisa, 46% afirmam que enxergam ter havido melhora na segurança de dados, enquanto a percepção do restante é de que se não houve avanço também não houve piora. Ou seja, a segurança mantém a situação de estabilidade. Uma boa notícia, considerando que o medo pode inibir o uso dos meios digitais para obter empréstimos.
Para reduzirmos as fraudes a níveis razoáveis é preciso investirmos cada vez mais em tecnologia e em inovação, mas também necessitamos de cada vez mais dados porque ainda há muita assimetria de informações entre quem empresta e quem pede emprestado. E essa tecnologia tem de garantir proteção não só quando alguém tenta pedir empréstimo de forma fraudulenta, mas principalmente quando algum criminoso tenta roubar informações.
O vazamento de dados dá muita dor de cabeça porque o fraudador passa a ter em mãos informações positivadas. Isso significa que ele consegue se passar por alguém cujo score de crédito é alto. Aqui temos um exemplo de assimetria de informações, pois o fraudador é alguém com acesso a informações que em certos casos as empresas da área de crédito não têm. E a criação de meios capazes de visualizar esse fator com maior precisão não só trará mais segurança como também contribuirá para reduzir as taxas cobradas para concessão do empréstimo.
Coibir fraudes e ter isso como um ponto para reduzir o custo do dinheiro é apenas um lado do problema. É preciso lembrar que, corriqueiramente, os golpes também se modernizam e se tornam, muitas vezes, imprevisíveis, o que aumenta ainda mais a necessidade de reinvenção constante por parte dos mecanismos e tecnologias de defesa.
A importância de termos métodos cada vez mais assertivos para tomada de decisões é o caminho para conseguirmos, ainda, evitar algumas injustiças de não emprestar para pessoas idôneas, mesmo com poucas informações disponíveis. Nem sempre um risco maior no score significa que estamos diante de uma tentativa de fraude.
Como já dito, não existe transformação digital sem automação de processos. E essa automação envolve a necessidade do consumo de cada vez mais informações que sirvam de referência para que a instituição financeira possa fazer validações, simplificar processos e melhorar a jornada do cliente com menos riscos. Os golpes também se modernizam, e os mecanismos de defesa necessitam de reinvenção constante. E precisamos ser ágeis na implantação de soluções inovadoras que deem a sustentação necessária para o bom funcionamento do setor de crédito.
(*) Breno Costa é diretor da Neurotech