Tendência de “fintechzação” dos marketplaces é uma forma de fugir do MDR

O movimento de criação de fintechs como Mercado Pago, pelo Mercado Livre, e BanQi, pela Via Varejo, parece ser uma tendência no segmento de marketplaces. A opinião dos especialistas é de que se trata de uma alternativa para fugir da Merchant Discount Rate, a famosa MDR, taxa cobrada nas transações com cartões.

O assunto foi discutido em um painel do O2O Innovation Xperience, evento realizado pela ABO2O (Associação Brasileira Online to Offline), entidade que reúne as principais plataformas digitais e marketplaces atuantes no país, em parceria com a API Connect, Cantarino Brasileiro e Instituto Startups.

A discussão foi mediada pelo presidente da ABO20 e Head de Public Affairs da Loggi, Vitor Magnani.  De acordo com matéria publicada pelo blog da entidade, ele vê com naturalidade o movimento dos marketplaces, mas ressalta que há dificuldades, principalmente regulatórias. “A partir do momento que esse marketplace entende seu consumidor, ele começa a vender produtos eletrônicos e financeiros. Mas, independentemente de um marketplace se tornar uma fintech ou não, ele já é, aos olhos do Bacen, um subcredenciador”, afirma.

Já para o head de Canais e Parcerias do Mercado Pago, Luciano Rafael Oliveira, é uma coisa natural do ponto de vista do usuário, mas fazer acontecer é um outro desafio. “Tudo parece normal, mas o dia a dia apresenta dificuldades para implementar a solução”, pondera.

O Peixe Urbano, famoso pelos cupons de desconto, também enxergou na fintechrização uma oportunidade, conta Ilson Bressan, CEO do Peixe Urbano e Groupon Latam. “Para nós, adotar as ondas das carteiras digitais significa um momento para ampliar a oportunidade de contato com os nossos clientes, mas a wallet não é fim, é meio”, disse.

De acordo com o texto, no início da década, os marketplaces começaram a se popularizar no Brasil. A grande dificuldade desses players era não conseguir liquidar as transações e cobrar as comissões por venda fora da plataforma. Nesse momento, empresas como Mercado Livre e Lojas Americanas, por exemplo, sofriam com a inadimplência dos vendedores. Afinal, protestar valores abaixo de R$ 5 não valia a pena o esforço.

Depois da regulamentação dos marketplaces pelo Banco Central em 2015, os players ganharam tração e passaram a não depender mais de adquirentes terceiros para liquidar as transações. “O que está acontecendo hoje é resultado do que os próprios agentes do mercado tradicional criaram. Hoje tem um fluxo e um risco gigantesco passando nos marketplaces. Criam-se fintechs. Nada mais óbvio, já que podem também entregar experiência”, opina Fred Amaral, diretor geral da Dock.

O movimento ainda é relativamente novo, mas os especialistas acreditam que a interoperabilidade será a grande tendência para os marketplaces fintechrizados.

Amaral acredita que a interoperabilidade ainda está um pouco distante e ainda enxerga problemas na regulação, mas acredita que algumas iniciativas mostram o caminho a ser seguido. “O problema da regulamentação é que a parte do ‘como fazer’ foi muito bem-feita, mas não cobriu problemas relacionados a risco de crédito. Acredito em movimentos como o do Mercado Pago, que é interoperar os pequenos comércios e QRCode”.

“É tarefa dos pequenos players se integrarem o mais rápido possível. Eu defendo que a gente sente para discutir como fazer a interoperabilidade, porque a barreira não é mais técnica”, afirma Bressan, do Peixe Urbano.

Para Alex Barreto, Legal, Compliance & Regulatory Director da BanQi, o futuro é fugir do MDR. “A carteira digital é uma forma de fugir disso. Acreditamos em fazer a liquidação dentro de casa. Podemos liquidar no prazo que acordarmos com o parceiro e ainda com custo menor”, conclui.